VIDEODANÇA
LAROYÊ | NOSSO POVO DÁ GARGALHADAS
Gravada
em Serra Negra – Pernambuco.
Poesia:
Nosso Povo Dá Gargalhadas (França de Olinda)
Itan: Exu ganha o poder sobre as encruzilhadas.
A videodança parte de uma das poesias de França de Olinda e de uma reflexão sobre nossa identidade e nossas ações enquanto povo, por meio de um pensar sobre a força motriz, as histórias e os arquétipos de Exu e Pombagira. Propõe refletir sobre o conceito de feminino, sobre a ideia de povo/nação e o rol em que a mulher se apresenta dentro de uma perspectiva afrocentrada e decolonial. Através destas referências, grita o corpo e o ser mulher no mundo e neste País como lugar de guerra, enfrentamento, e o coloca como representante do "NOSSO POVO". Buscando um estado em que arte, liberdade, corpo, povo e nação são ideias inseparáveis. Encontra acolhimento com o pensamento de um "corpo de mulher"/"corpo de povo" na encruzilhada, resistindo em seu caos, reaprendendo tudo, reinventando o passado, reinaugurando um presente e um futuro de mais equidade e respeito.
VIDEODANÇA PATAKORI | E EU PENSANDO...
Gravada em Bezerros e Gravatá - Pernambuco.
Poesia: E eu pensando... (França de
Olinda)
Itans: Ogum mata seus súditos e é transformado em Orixá e Ogum conquista para os homens o poder
das mulheres.
A videodança se debruça nas palavras e no movimento proposto pelo poema
de França de Olinda para refletir sobre as relações entre uma construção de
vida (do indivíduo e da sociedade) pautada no progresso desenfreado, e, na
contramão, uma outra que prioriza os sentimentos, emoções e desejos
humanos de bem-estar e coletividade. Traz, através dos movimentos e das imagens
na videodança/videopoesia, dois itans de Ogum (orixá ligado ao ferro, às
engrenagens e máquinas), como lugar de reflexão e aprendizado acerca do poder
do reconhecimento do erro, do arrependimento, da importância do equilíbrio
entre masculino e feminino, e lugar de questionamento sobre o que de fato é
progresso.
VIDEODANÇA YÊ YÊ Ô KUNHÃ | A LINHA DO RIO
Gravada em Bonito – Pernambuco.
Poesia:A linha do rio (França de
Olinda)
Itans: Oxum fica pobre por amor a
Xangô e Oxum faz as mulheres estéreis em represália aos homens.
Estudos indígenas: Cosmologia indígena x
a importância e a relação com rio (Cobra-canoa/ cobra-grande).
A videodança parte, através da poesia de França de Olinda, para um pensar sobre a natureza/mulher e sua importância enquanto geradora da vida. Passeia por itans do orixá Oxum (ligada às águas doces, ao amor e à fertilidade) e por cosmovisões indígenas (cobra-canoa/cobra-grande) que tratam o rio como lugar de riqueza e de força geradora para a existência dos seres humanos. O rio é uma mulher, é o caminho gerador e o próprio corpo e mente humanos.
VIDEODANÇA OBÁ KOSSÔ | ELEGEM UM REI...
Gravada em Serra Negra e Olinda –
Pernambuco.
Poesia: trecho deConstatação (França de Olinda)
Itans: Xangô é escolhido rei de
Oió e Xangô torna-se rei de Cossô.
A videodançaparte de um trecho do
poema Constatação de França de Olinda e de alguns do itans do orixá
Xangô (relacionado ao fogo, à justiça e ao trovão) para trazer questões acerca
do racismo epistêmico (presente na academia, literatura e nas narrativas históricas
do Brasil), bem como o conceito de Justiça Cognitiva, de Boaventura de Sousa
Santos. Ler, falar e dançar a poesia de França de Olinda, assim como refletir
sobre os itans, coloca-se como uma interrogação das nossas práticas diárias e
em nossas escolhas de leitura. "Visibilizar formas de saber, com destaque
para o conhecimento subalternizado, por vezes reduzido e silenciado pelos
processos de colonialidade" é o grito já há muito existente na poesia
de França em "fazer uma guerra, sem tréguas, sem bombas, sem par. Uma
guerra na rua, no trabalho, na escola, na casa: olhar com altivez e nunca na
vida a cabeça baixar”.
VIDEODANÇA EPAHEY OYÁ e YVIRÁ-NHENRY | UMA DEUSA DO FOGO
Gravada em
Jacumã – Paraíba.
Poesia: Uma Deusa do Fogo(França
de Olinda)
Itans: Oiá usa a poção de Xangô para cuspir
fogo, Oiá transforma-se no rio Níger, Iansã ganha atributo dos seus amantes.
Estudos indígenas: O pensamento sobre Yvirá-nhenryna obra O Trovão e o Vento de KakaWerá, índio Tapuia,
escritor e pesquisador da cosmovisão tupi-guarani.
Neste episódio em videodança/videopoesia, a pesquisa se
debruçou no poema Uma Deusa do Fogo
para negritar e dar mais visibilidade aoutras possibilidades do “ser mulher”.
Dentro desta perspectiva, através dos ìtans e de alguns pensamentos presentes
na cosmovisão tupi-guarani (no que diz respeito ao elemento e à natureza do
fogo) o episódio busca também outra ideia de feminino. Nos ìtans de Oyá (orixá
que remete, entre outras atribuições, aos ventos, as tempestades, aos raios e
ao fogo), encontramos uma mulher que subverte a lógica da passividade, apodera-se
e se mune de ferramentas e elementos para guerrear e buscar equidade de
poderes. Também nesta perspectiva, como diz o poema “Uma Deusa do Fogo/ me
lambe a mente/ me queima a semente de uma nova idéia...” busca-se refletir
sobre a ideia de fogo e da árvore do pensamento Yvirá-Nhenry, presente na pesquisa do escritor KakaWerá. Para ele, “na sabedoria ancestral, se diz que o fogo do
espírito está oculto como uma semente no coração. É preciso despertá-lo. Para
que isso ocorra, é necessário dissolver falsas crenças internas penduradas em
nossa árvore de pensamento (yvirá-nhenry)”. Através do estudo dos ìtans e da
cosmovisão tupi-guarani trazida por Kaká Werá, é possível repensar as ideias,
pensamentos e palavras historicamente vinculadas à mulher. Quais crenças que limitam o “ser mulher”
precisamos dissolver/queimar na busca por equidade?
VIDEODANÇA SALUBA | DANÇO A DANÇA E NANÃ BURUKÊ
Gravada em Tabatinga
- Paraíba
Poesias: Danço a Dança que éNanã Burukê(França de Olinda)
Ìtan: Nanã fornece a lama para a modelagem do
homem.
Nesta videodança/videopoesia, encontramos um caminho de reflexão sobre o tema do ciclo da vida e da morte, e de um pensar sobre nossas ações enquanto seres humanos para com o corpo da terra/natureza, da qual nós somos parte. Este pensamento é reforçado aqui através de dois poemas de França na obra Poeminflamado (2012). Em “Danço a dança” os temas da morte e da dança colocados em conjunto como lugar de aprendizado e de afago das “durezas da vida”. Em “Nanã Burukê”, poesia intitulada com o nome da Orixá Nanã (que remete à sabedoria, ao ciclo vida-morte, as águas paradas, aos manguezais e ao barro que modela os seres humanos), encontramos o questionamento da nossa responsabilidade sobre as doenças mundanas que nós mesmos criamos, e, ao mesmo tempo, o clamor de piedade a uma senhora e grande-mãe. Nos ìtans de Nanã também pode-se refletir sobre a equidade de gêneros, pois é apenas através da força deste orixá feminino que é possível obter a matéria para a modelagem dos seres humanos. É do barro de Nanã que somos feitos, e é para ele, que no aprendizado do ciclo de vida-morte retornaremos. O poeta diz “Me solta Nanã, Burukê me prende”. Somos a própria natureza no aprendizado de si mesma.
VIDEODANÇA ODOYÁ e MULHER-PEIXE | QUERO (MARGARIDA)
Gravada em
Jacumã – Paraíba.
Poesia: Quero (Margarida)(França
de Olinda)
Ìtan: Iemanjá foge de Oquerê e corre para o
mar e O casamento de Iemanjá com Oroquê. / Estudos indígenas: Texto Iara e Iara: Ciúme, Sedução e
Projeção, ambos do filósofo Renato Noguera.
Neste
episódio, através da poesia Quero
(Margarida) de França, a pesquisa buscou refletir sobre a relação da água salgada
do mar e da água salgada das lágrimas, evocadas pelo poema, com os papéis
desempenhados pela mulher nos lares (natureza), nas famílias, nas relações com
os homens e nos afazeres domésticos. Assim, nesta videodança/videopoesia, investiga-se
os ìtans de Iemanjá, no seu rol enquanto mulher-mãe, senhora da casa, provedora
do alimento e do leito/colo, bem comonas versões dos escritos indígenas e mitos
que versam sobreIara enquanto sereia,
mãe-d’água e mulher-peixe. Dentre tantos papéis desempenhados pelas mulheres, as
atividades domésticas e o cuidado com os filhos são funções ao longo da
história naturalizadas indevidamente como algo restrito ao universo feminino.
Para o filósofo Renato Noguera, no ìtanO casamento de Iemanjá com Oroquê “a ação de Oroquê
reforça que, nas sociedades em que as relações de gênero são muito assimétricas,
os homens vêem o descuido com as tarefas domésticas como uma posição de
privilégio”. O ìtan finda com a não
aceitação de Iemanjá dessa condição assimétrica, rompendo o laço com Oroquê. O
mesmo ocorre nos escritos sobre Iara, segundo o filósofo, através da
interpretação de outros pesquisadores e escritores indígenas como Sandra Benite
(Guarani), Daniel Munduruku (Munduruku) e Davi Kopenawa (Yanomami), pelo víeis
do animalismo, é possível pensar que o
mito de Iara nos fala que “Iara é aquela que salva os homens de sua própria
humanidade”. “Amarga água, amarga vida,
a mais garrida, Ai MARGARIDA!” diz o poeta.
VIDEODANÇA Ê PÁ BABÁ | UM NINHO SE FAZ EM PAZ
Gravada em
Olinda – Pernambuco.
Poesia: Um ninho se faz em Paz(França
de Olinda)
Ìtan: Orinxalá cria a Terra.
Na simplicidade desta última poesia de França “Um ninho se faz em paz”, este episódio traz a reflexão do corpo, da terra como casa, como o lar dos seres humanos. No ìtan de Orinxalá, Ifé a ampla morada, o ninho. A riqueza é constituída na simplicidade da terra/lar, da paciência, da serenidade em meio ao caos, da passagem da criação, da sabedoria do tempo na vida. A partir da poesia a artista da dança e pesquisadora interage com as cartas-respostas enviadas as seguintes perguntas: onde mora a paz? onde construo meu ninho?
Agradecimentos aos
envios/cartas-respostas: Isaac Souza, Clareanna, Jecilene Oliveira, Lucélia
Queiroz, Adones Vasconcelos, Henrique Braz, Luan, Nathália Monteiro, Natalie
Revorêdo, Mariana Ribeiro, Januária, Luana Rabelo, Pitoce de Airá, Gustavo
Pimenta, Iara Campos, Ana Paula Ferreira, Deyvson Vicente, Caio Rabelo,
Priscila Santos, Renan Ramo, Amélia Veloso, Wagner Santos, Andrea Lima, Fátima
Monteiro, Wolnei Macena, Luciana Souza, Honório Justino.